“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” Karl Marx
Certo dia, lendo a coluna do jornalista David Coimbra,
encontrei o que penso ser o mais próximo de uma explicação sobre as barbáries
cometidas pelos jihadistas. Em seu
texto, Coimbra faz uma chocante e ousada comparação dos membros do
autodenominado Estado Islâmico (E.I.) com os grandes traficantes brasileiros.
Essa comparação me chocou, em primeiro lugar, porque foi inteligente. Explico.
Alguém sabe porque o E.I. está decapitando presos de outros países? Queimando
pessoas em jaulas e publicando o vídeo que prova a execução na mídia internacional?
A maioria das pessoas não sabe - porque não se fala sobre os jihadistas, ou
pelo menos não se falava até pouco tempo atrás.
O sentimento que permanece em nossas mentes é de dúvida.
Ora, os Estados Unidos e a ONU não trabalham para combater o terrorismo no Oriente?
Como ainda existem grupos extremistas cometendo tais crimes, de forma tão
brutal? E é aí que David compara os jihadistas com os traficantes da popular Rocinha,
no RJ. Não são as mesmas perguntas que nos acometem? Ora, o Brasil não possui
força policial e um Exército que possa combater os traficantes mano a mano?
Como ainda existem criminosos do narcotráfico comandando a população e
queimando pessoas vivas para executar dívidas? Coimbra faz então a inteligente
façanha de responder a nossa pergunta que fica escondida lá no fundo da mente,
toda vez que lemos/vemos/assistimos ao noticiário: por quê? Segundo o
jornalista, “porque eles podem”. O jihadista mata porque ele pode. O traficante
mata porque ele pode.
Na onda do David, ouso comparar os jihadistas e traficantes
com os nossos políticos. Eles fraldam licitações e lucram com percentuais de
comissão, tiram a riqueza que é do país através do petróleo e da Petrobras,
compram mansões, carrões, “mulherões”, e o que sobra é colocado na conta do
HSBC – ou será na Suíça? Enquanto isso, os pequenos empreendedores que desejam
um auxílio do governo para alavancar a economia, não conseguem acesso aos limites
de crédito do BNDES, pois os ativos deste banco estão financiando as férias dos
parlamentares. Por quê? Porque eles podem.
Constitucionalmente, corrupção e roubo são condenáveis. Mas, para
que isso ocorra, é preciso que alguém denuncie. Depois que se prove. Então que
se comprove. E, por último, que se dê a sentença. Quem denuncia? Um dos
envolvidos porque não ganhou a quantia desejada, ou seja, um hipócrita. Quem
tem provas? Quem mais roubou, mas escondeu seus feitos. Quem comprova? A
presidente, por não poder mais desviar o foco do problema. Quem dá a sentença?
O juiz que processou a fiscal de trânsito ao ser multado conduzindo um veículo
sem placa. Os hipócritas, a presidente, o juiz, todos eles podem. Porque nós
também podemos.
Ou será que não? Quantas vezes você entrou na fila do caixa
rápido tendo mais de 10 itens no carrinho, e ainda teve a cara de pau de dizer
para a caixa que nem percebeu? O que te aconteceu? Nada. Quantas vezes você
estacionou seu carro na vaga destinada aos deficientes físicos e ainda saiu
assoviando, como que fingindo não ter visto? O que te aconteceu? Nada. Porém, enquanto
burlou o caixa rápido, alguém perdeu o ônibus porque a fila demorou demais. O
deficiente físico que precisou ir ao supermercado não conseguiu, pois seu carro
estava na vaga destinada a ele. Mas claro, pessoal, sei também que tem pessoas que não são
assim. São assado. Ou pior.
Tipo os ijuienses que foram protestar em frente ao quartel
nesse domingo. Pediam, como mostra a faixa usada no protesto, a intervenção
militar para a saída da presidente Dilma Rousseff. Eu até ampliei a imagem pra
ter certeza do que estava vendo. Tenho profunda indignação com esses seres
ignorantes, que nem sequer sabem o que é uma intervenção militar, não viveram
uma ditadura e nem aprenderam com as consequências dela, e querem clamar
exatamente ao órgão que ri da democracia? Por acaso você já viu um neto de
escravo, décadas após a abolição, em pleno século XXI, voltar aos engenhos e
pedir pra ser amarrado novamente em troncos? É simplesmente inacreditável.
Além dos jihadistas, traficantes e políticos poderem fazer o
que fazem, existe também outra variável que radicalmente expresso aqui. O povo
tem o governo que merece. Por isso acho da pior hipocrisia ir fazer protesto na
praça, junto com caminhoneiros que bloquearam as estradas e impediram a circulação
de alimentos perecíveis, e ainda por cima indo fazer fiasco na frente do
quartel. Porque foram perdidos, nestas últimas paralisações, milhares de litros
de leite que poderiam ter alimentado crianças nas creches, carnes e derivados
que abastecem os nossos supermercados, fora as demais perdas humanas devido à
incapacidade de realizar uma manifestação inteligente e pacífica.
Isso mesmo. Quem protesta com violência, com bloqueio de estradas e pede a volta do regime militar pode ter razão sobre não aturar mais um governo corrupto e ladrão. Mas precisa voltar pra escola e frequentar matérias básicas como história e matemática. Porque um político mais um jihadista mais um traficante mais uma população ignorante é igual a uma nação sem moral para pedir intervenção de quem quer que seja. A não ser da inteligência.
Isso mesmo. Quem protesta com violência, com bloqueio de estradas e pede a volta do regime militar pode ter razão sobre não aturar mais um governo corrupto e ladrão. Mas precisa voltar pra escola e frequentar matérias básicas como história e matemática. Porque um político mais um jihadista mais um traficante mais uma população ignorante é igual a uma nação sem moral para pedir intervenção de quem quer que seja. A não ser da inteligência.
Ah, mas eu não quero um governo melhor? Ô, se quero. Como
todos. Um país melhor pra viver e um futuro melhor para os filhos, é o que
se diz. No dia em que eu não enxergar mais a hipocrisia, a roubalheira escancarada
e a ignorância aqui mesmo na minha pequena cidade, você pode aguardar que com certeza vai
me encontrar nas ruas também. Um abraço e boa semana!
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